Ah, a primeira ida ao estádio quando ainda somos crianças… é nesses momentos que a alma de um torcedor se forja para sempre. Jota Roberto Christianini, enciclopédia viva do Palmeiras, dispensa maiores apresentações, mas aqui trazemos seu relato para ajudar a entender como sua história de devoção ao clube começou.
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Imaginem a emoção de um menino de 7 anos quando ouviu: “Vamos ao campo do Palmeiras ver o jogo!” Hoje? “Agora! e anda logo que o jogo ja vai começar”.
Meu tio Roque, meu pai, meu irmão, 2 primos, todos correndo em direção a Rua Guaicurus para pegar o bonde. Criança não pagava e meu pai e tio também não porque eram sócios – como mudaram as coisas hein. Afinal o jogo era as 15:00 e já passavam das 14:30. Era a primeira vez que veria aquilo que então só imaginava pela narração do Pedro Luís na Radio Panamericana – quase sintonia fixa na minha casa – e pelas fotos dos jornais do dia seguinte. Era emoção demais, eu veria Humberto Tozzi; mal sabia que logo ao chegar ampliaria os meus idolos, colocaria Liminha no panteão dos grandes que honraram a camisa alvi-verde.
Lá se vão quase 60 anos, mas confesso a vocês que parece que foi ontem. No fundo eu gostaria que tudo tivesse acontecido ontem. Não tinha a noção que veria jogadores que depois seriam lendas na história palestrina. Eu os vi, ao vivo e em cores. Coisa inimaginável para os meninos da época. Na volta comemorando a vitória e depois muitos dias contando a emoção e sensação de ter visto aquelas camisas verdes, tom imperial, que já faziam e continuariam a fazer tremer os adversários. O amor já existia, nesse dia firmou-se para sempre.
1º de outubro de 1955: parece que foi ontem, mas lá vão quase 57 anos da primeira vez que entrei em Palestra Italia para ver um jogo de futebol.
E que jogo! Já contei no 3VV inúmeras vezes que ao entrar Liminha fez um gol e veio em minha direção – eu cheguei com o jogo em andamento.
Sempre disse que ele marcou o gol porque me viu chegar.
A irmã dele – Liminha faleceu há mais de 20 anos – confirmou o fato dizendo que o irmão sempre dizia que marcara aquele gol por ter visto eu chegar.
Entrei pela Turiassu, então um portãozinho, e vi Valdemar Fiume, Jair Rosa Pinto, Liminha, Rodrigues e não vi o Mário Travaglini jogar de beque, pois sentiu contusão nos vestiários e não entrou. Também jogou Lima, o Garoto de Ouro do Palmeiras, que após 16 anos de Palestra estreava, naquela tarde de sábado, no Jabaquara.
Como a primeira vez ninguem esquece e após 55 anos eu posso, com justa razão, dizer essa: Meninos, eu vi!
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CONTEXTO
O Paulistão de 1955 foi disputado em turno e returno por 14 equipes, num total de 26 jogos para cada uma, e a partida que Jota presenciou valeu pela 10ª rodada. O Verdão, cujo último título fora cinco anos antes, tinha começado bem com sete vitórias consecutivas, mas perdeu as duas seguintes, para Portuguesa e o futuro campeão Santos, em partida que valeu a liderança ao time da Vila até aquele momento, pois ambos estavam empatados. No fim, diversos tropeços fizeram a equipe terminar em quarto lugar, com 15 vitórias, 5 empates e 6 derrotas, num total de 35 pontos (5 atrás do Santos, 4 do Corinthians e 3 do São Paulo)
Nesta partida em particular, o Palmeiras teve que suar, pois terminou o primeiro tempo perdendo por 2 a 1 para um Jabaquara que, apesar de ter ido mal no campeonato (terminou em último, mas não foi rebaixado por ser clube fundador da federação), vivia um momento bom, tendo vencido as duas partidas anteriores.
FICHA TÉCNICA
1/10/1955 – PALMEIRAS 5 x 3 JABAQUARA – CAMPEONATO PAULISTA
Estádio Palestra Itália – São Paulo / SP – Brasil – Público: indisponível – Renda: Cr$ 78905,00
Árbitro: Esteban Marino (Uruguai)
Palmeiras: Cavani; Manoelito, Valdir; Ruarinho, Valdemar Fiume, Gérsio; Renatinho, Humberto, Liminha, Jair, Rodrigues – Técnico: Claudio Cardoso
Jabaquara: Adalberto; Elias, Getúlio; Biguá, Jorge, Miguel; Laércio, Lima, Nicácio, Jandir, Araraquara – Técnico: não descobrimos
Gols: Jandir 30 segundos, Liminha 2 e Nicácio 7 do primeiro tempo; Liminha 7, Renatinho 23, Rodrigues 26, Jair 30, Miguel 32 do segundo tempo
NO DIA SEGUINTE
Numa manchete habitual em nossa história, “o time não jogou bem, mas venceu”. Pergunte a um garoto de 7 anos que presenciou um 5 a 3 em sua estreia nos estádios se ele concorda…
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