Nossa série sobre os importantes estádios em que o Verdão atuou já falou de duas sedes de finais de Copa do Mundo (Maracanã e Centenario), mas sabemos bem que a história do futebol não se desenvolve apenas nos grandes templos. Muito pelo contrário, ela deve muito aos estádios de bairro, dos clubes menores. E, no caso de São Paulo, falar de estádio pequeno é falar da casa do Clube Atlético Juventus, onde, diz-se, Pelé marcou seu gol mais bonito (por causa disso, há lá uma estátua sua, de gosto altamente duvidoso).
Ao contrário do que pode parecer considerando-se o tamanho de ambos, clube e estádio, o Palmeiras já jogou no Estádio Conde Rodolfo Crespi sim, e por diversas vezes. Mais precisamente, 24 – a grande maioria delas naturalmente contra os donos da casa.
Foi esse o caso da primeira e da última vez que o Alviverde lá esteve: a estreia foi pelo Paulista de 1930, e terminou em vitória do Palestra por 1 a 0, gol de Lara; já a despedida (até aqui, embora nada indique uma mudança) foi também pelo Paulistão, o de 1985, e nela não passamos de um empate por 1 a 1 (Ditinho marcou de pênalti) diante de 6000 torcedores. Na ocasião, a torcida verde derrubou parte do alambrado – o que ainda hoje não é lá muito difícil – paralisando a partida por alguns momentos, e isso provavelmente justifica a ausência de clubes grandes desde então – mesmo o Fluminense, quando enfrentou o Juventus pela segunda divisão do Brasileiro em 1998, jogou em Osasco.
Contudo, se a estreia e a despedida foram contra o Moleque Travesso, não foi o Juventus quem sofreu nossa maior goleada ali: a vítima foi o Germânia, pelo Paulista de 1931, num inapelável 7 a 0 com hat trich de Heitor. Esta foi uma das únicas três vezes que enfrentamos ali um adversário que não fosse o clube da Mooca (as outras duas foram contra o Internacional da capital pelo mesmo campeonato e contra o Nacional pelo Estadual de 1948. Vencemos todas).
No todo, nosso retrospecto é de 15 vitórias, 7 empates e apenas 2 derrotas (o time grená nos derrubou em 1938 e 1969), 53 gols a favor e 18 contra. E, ainda hoje, a Sociedade Esportiva Palmeiras mantém um vínculo com a Javari, mas agora por meio de seu time B, que a adotou como sua casa nesta temporada.
Quem não conhece a casa juventina precisa um dia visitá-la, antes que seja tarde (a região onde ela se situa é valorizada, e há constantes notícias de que o terreno possa ser vendido). A Copa de 2014 trará ao Brasil uma era de estádios modernos, mas a ligação com o passado, com um futebol que cada vez mais fica para trás, é essencial. Afinal, onde mais ainda se pode grudar ao alambrado para desferir impropérios a menos de um metro do bandeirinha?
Insistimos: conheça a Javari (ou o estádio pequeno de onde você mora). Mas vá cedo: lá ainda não há holofotes…
Com exceção da primeira, as fotos que ilustram esse texto foram tiradas durante o confronto entre Palmeiras B e União São João, pela série A2, em 7/3.
[…] O nome oficial é Estádio Conde Rodolfo Crespi, mas foi pelo apelido de Rua Javari que a mítica cancha do Juventus, inaugurada em 1925, passou a ser conhecida no mundo do futebol, da cultura e da convivência social. Pode receber cerca de quatro mil torcedores, mas sua capacidade é inversamente proporcional às histórias de que já foi palco. A mais famosa de todas, claro, é o gol que Pelé considera o mais bonito de sua carreira, aquele do qual não existem imagens, mas todo mundo garante que viu. Diz-se inclusive que o estádio já chegou a receber QUINZE mil pessoas quando foi reinaugurado em jogo contra o Corinthians, em 1941. Localizado no meio de um quarteirão do bairro da Mooca, a Rua Javari permite deleites fundamentais ao torcedor, como exercer a corneta a uma distância audível, quase TÁCTIL, dos atletas e os já mundialmente conhecidos canollis do Seu Antônio, que os vende ali há mais de QUARENTA anos. Atrás de um dos gols, está uma creche abandonada pela família Crespi, proprietária do Cotonifício Rodolfo Crespi, cujos operários fundaram o clube, hoje ocupada por famílias cujas crianças são sempre colocadas pra dentro do estádio pela torcida. Também há, é claro, os prazeres desportivos, e o mais vultoso deles foi a Taça de Prata de 1983. E, por fim, para não competir com as noites nas cantinas, a Rua Javari ainda reserva-se no direito de não ter iluminação, portanto só recebe jogos à tarde. (Origem da foto) […]