O jogo entre Flamengo e Vitória nem tinha acabado quando inúmeras mensagens com o mesmo teor começaram a pipocar no Twitter. Em resumo, diziam mais ou menos o seguinte:
O bom senso de fato diz que confiar em que o Palmeiras faça sua parte é uma temeridade, ainda que o presidente reeleito haja garantido que não cairemos. Agora, esta sensação de falhar quando temos tudo em nossas mãos se justifica?
O que aconteceu das últimas vezes em que só dependia de nós?
Pesquisamos todas as vezes que isso ocorreu desde 2000, quando ao bom e caro da Parmalat se sucederam inúmeros ruins e baratos. Excluímos mata-matas, porque afinal ali sempre só depende de nós e também porque os jogos são sempre contra adversários diretos. Mesmo assim, sobram estes casos apresentados do mais recente para o mais antigo, identificados em verde (se conseguimos o resultado necessário), azul (se não conseguimos, porém os adversários também falharam) ou vermelho (você sabe).
Vamos à lista. Sigam-me os bons!
Botafogo 2×1 Palmeiras – Brasileiro 2009
Já começamos por um caso emblemático, cujo trauma até hoje parece não ter passado. Após uma vitória contra o Galo estancar quatro jogos sem triunfos, o Verdão chegou à última rodada com poucas chances de título, mas dependendo só de si para chegar à Libertadores.
Em terceiro lugar, o time chegaria à fase de grupos se vencesse o Botafogo, que abria o Z4. Mesmo o empate garantiria no mínimo a pré-Libertadores, pois tínhamos três pontos de vantagem para o Cruzeiro. Se perdêssemos, bom, os mineiros jogariam fora de casa contra o Santos. Ou, numa zebra, o São Paulo quem sabe podia perder para o Sport em casa.
No fim… bom, o São Paulo não teve o mínimo trabalho – ganhou por 4 a 0 sem suar e levou uma das vagas. O Palmeiras livrou o Glorioso da degola ao perder por 2 a 1 (e esse “um” foi nos acréscimos, um típico gol de desonra). E a Raposa, também por 2 a 1, levou os três pontos e a vaga remanescente. O tento decisivo foi de Kléber Gladiador, que havia atuado no Palmeiras no ano anterior (e o primeiro foi de um futuro breve atleta nosso, Wellington Paulista).
Que isso sirva de lição: contar com o Santos é péssimo negócio.
Colo-Colo 0x1 Palmeiras – Libertadores 2009
Chegar vivo àquela partida já era incrível: o Palmeiras perdera as duas primeiras no grupo. Ressuscitou em Recife, para tropeçar no mesmo Sport no Palestra. Aí venceu a vigente campeã LDU para viajar a Santiago em busca da vitória, único resultado que lhe serviria – empatado conosco em pontos, o Colo-Colo tinha saldo melhor.
O Palmeiras veio com uma surpresa: Souza fazia somente sua segunda partida como titular – na primeira o Palmeiras atuara com reservas. O time atuava direito, mas o gol não vinha. No segundo tempo, ainda perdeu Marcão, expulso. Até que um daqueles chutes que os Jumares acertam contra nós finalmente veio a favor. Cleiton Xavier acertou o lugar onde a coruja que simboliza a Universidad de Chile, maior rival do Cacique, dorme, e nos deu uma vitória que já parecia impossível. Uma noite de rara felicidade nestes tempos.
Palmeiras 0x1 Botafogo – Brasileiro 2008
Você leu isso pouco acima: Palmeiras em terceiro na última rodada, bastando vencer o Botafogo para se manter à frente do Cruzeiro e ir à fase de grupos da Libertadores.
Pois é. Um ano antes tinha sido igual – mas em casa. Desta vez o Fogão estava no meio da tabela, jogando somente pela mala branca de seu arquirrival Flamengo, que precisava de um tropeço nosso por estar em quinto, um ponto atrás e com desvantagem no desempate. O Cruzeiro, também um ponto atrás mas em quarto, tinha missão fácil: a rebaixada Lusa no Mineirão.
Naquela tarde, a única alegria veio de Curitiba, onde o Atlético-PR (que estava na mesma situação que temos hoje: 16º com um ponto a mais que o 17º) venceu os cariocas por exóticos 5 a 3 e nos garantiu um lugar em busca da América. O técnico rubro-negro era Caio Júnior, que assim jogava fora a vaga pelo segundo ano seguido (a outra? chegaremos lá).
A nossa parte não fizemos: um gol de Wellington Paulista nos derrubou. O Cruzeiro fez fáceis quatro a um na Portuguesa e com isto nos enviou a Potosí. Com olhos de hoje, poderia ter sido pior.
Palmeiras 1×3 Atlético-MG – Brasileiro 2007
É, temos que repetir: o Palmeiras brigava com o Cruzeiro por uma vaga na Libertadores, etc. e tal. Desta vez, também o Grêmio estava na briga.
Em quarto lugar, o Palmeiras até poderia chegar à fase de grupos, mas seria necessária uma combinação pouco provável. O mais importante era mesmo garantir a vaga na pré contra um Galo que também buscava uma classificação – para a Sula. Mas, poxa, brigávamos contra o Cruzeiro, eles iam entregar, não?
Era obrigatório vencer: apesar de o Palmeiras, em quarto, ter um ponto a mais que a Raposa, em sexto, e o Imortal, em sétimo, os mineiros receberiam o fragílimo América-RN, de DEZESSETE pontos em 37 rodadas (um deles contra nós). Vale dizer que o Flu era o quinto colocado mas já estava classificado por ter vencido a Copa do Brasil.
Caio Júnior não contava com Valdivia, suspenso – oh! – e punha suas fichas em Edmundo. Mas o time, que tinha aprontado poucas semanas antes ao perder no Palestra para o então quase rebaixado Juventude, fez das suas de novo: saiu atrás, empatou logo depois, mas sucumbiu no segundo tempo. Os 3 a 1 para o Atlético de Emerson Leão nos derrubaram três posições de uma vez.
O Cruzeiro, claro, venceu o América por 2 a 0 e levou a vaga. O Flu bateu o vice Santos. E o Grêmio tropeçou em Porto Alegre, mas o empate bastou para ficarem à nossa frente na classificação. Não que lamentássemos este resultado em particular: afinal, foi a partida que rebaixou o arquirrival Corinthians para a Série B, o que fez com que a derrota fosse momentaneamente esquecida e o Palestra tivesse ao menos um motivo para explodir naquele 2 de dezembro.
Palmeiras 3×2 Fluminense – Brasileiro 2005
Um dos poucos grandes jogos da década passada. O Palmeiras lutava pela Libertadores e dera muita sorte na penúltima rodada – perdeu para o Inter em Porto Alegre (quem raios sempre coloca esse jogo perto do fim do campeonato?) mas viu o Fluminense perder de virada em casa para um Juventude sem qualquer pretensão. Se o Tricolor tivesse vencido, abriria quatro pontos de vantagem e apenas cumpriríamos tabela na despedida.
Mas não venceu e veio ao Palestra precisando empatar para manter a quarta posição. Um ponto atrás, o Verdão era o único time que ainda brigava com o Flu – os de cima já estavam classificados e os de baixo eliminados. Era um daqueles raros confrontos diretos em rodadas finais de pontos corridos.
O doping psicológico de Leão que nos reerguera após um mau início de torneio se fez presente uma última vez. O Fluminense saiu na frente (claro, com gol de ex-palmeirense: Tuta), levou o empate de Washington, fez 2 a 1, mas foi a pique após gol contra de Petkovic. O gol de falta de Correa decretou a virada, a festa na arquibancada e, não sabíamos, o último final feliz de um Brasileirão para o Palmeiras. E lá se vão nove anos…
Palmeiras 0x0 Cerro Porteño – Libertadores 2005
Talvez a missão mais fácil da lista. Era a última rodada da fase de grupos, e o Palmeiras pegava um Cerro já classificado, mas não com a primeira posição garantida – para isso eles precisavam do empate. Vitória do Palmeiras nos daria a liderança da chave, e a igualdade também serviria para nos classificar, porém nos faria enfrentar o São Paulo, como de fato ocorreu.
Se perdêssemos, teríamos que torcer para o Santo André não vencer o Deportivo Táchira no ABC por mais de dois gols de diferença. Parecia tranquilo, mas o tempo passava, o Palmeiras não saía do zero e o Ramalhão pegou no breu – após ir para o intervalo ganhando só de 1 a 0, não precisou nem de 20 minutos para marcar mais QUATRO.
Enquanto isso, o Alviverde perdia Nen, expulso. Foi o estopim para desistir de atacar e segurar o zero que já então parecia lindo. E, de maneira chocha como era a cara do time de Bonamigo, avançamos para depois pagar mico nas oitavas.
Fluminense 1×1 Palmeiras – Brasileiro 2004
Esse é um caso esquisito. Eram quatro vagas em jogo; três já estavam definidas e o Palmeiras ocupava o quarto posto. O São Caetano, logo atrás, perdeu 24 pontos no STJD após a morte de Serginho e com isso deixou o quinto lugar. Assim, o Palmeiras se classificara na penúltima rodada ao vencer o Criciúma no Palestra.
Às vésperas da rodada final, no entanto, foi anunciado um novo julgamento. Se o Azulão recuperasse os pontos, teria somente um a menos que o Palmeiras, que portanto precisaria vencer o Flu no Rio ou torcer para um tropeço do eterno time de Adhemar contra o ameaçado Atlético-MG fora; se nada desse certo, era esperar que o STJD ratificasse a punição dali a alguns dias.
Ficamos no empate (com direito a golaço de Ricardinho), mas nem precisamos do tribunal – o Galo fez 3 a 0 e liquidou a peleja fora do tapetão (no qual a perda dos 24 pontos acabou sendo confirmada).
Rio Branco 1×1 Palmeiras – Paulista 2003
“Pô, Rio Branco? Nem precisava colocar esta na lista, né?”
Calma, é necessário ter as coisas em perspectiva. Este foi o primeiro campeonato em que ouvíamos “ão ão ão” em tudo quanto era biboca. O time tinha sido remontado após a queda, e seria remontado de novo durante a série B. Ou seja, era um plantel muito frágil.
O Paulistão tinha um regulamento esquisito: era curto mas havia 21 (!) participantes. A primeira fase consistia em 3 grupos de sete jogando em turno único. A última partida do Palmeiras era em Americana e o time precisava empatar para garantir no mínimo uma das duas vagas de melhores segundos colocados.
Era um confronto direto – o Tigre precisava da vitória. O jogo começou a mil: os dois gols saíram nos primeiros 20 minutos (o nosso de pênalti cobrado por Adãozinho). Depois caiu de ritmo, mas a classificação não veio de forma fácil: o assustado Palmeiras levou duas bolas na trave. Mas se safou e acabou efetivamente passando como segundo melhor terceiro colocado – ficamos atrás de Guarani e da líder União Barbarense (!!)
Vitória 4×3 Palmeiras – Brasileiro 2002
Evidentemente o confronto que mais será lembrado esta semana, e nem pode ser de outra forma. Eram outras circunstâncias – jogo fora de casa, a derrota obrigatoriamente derrubava o time, havia certa incredulidade pelo ineditismo da situação e pelas viradas de mesas anteriores. Mas o fato é que foi a única vez que o Palmeiras jogou sua sorte na ponta de baixo na tabela, e fracassou.
Assim como agora, vitória nos livrava de qualquer risco e empate nos faria depender de uma combinação de resultados. Mas a derrota já assinava o atestado de óbito – o Palmeiras era o primeiro dentro da zona (escaparia em caso de vitória porque os dois times logo acima, Bahia e Lusa, se enfrentavam e um deles seria ultrapassado).
Tanto se falará deste jogo nos próximos dias que vou evitar fazê-lo aqui. Nada de links e de descrição do jogo; poupemo-nos da triste memória daquele dia (eu mesmo já ando tão bem-sucedido nisso que coloquei 4×2 ali em vermelho e só olhando a ficha é que notei que estava errado). Basta dizer que naquele 19 de novembro nem o empate teria resolvido – subiríamos uma posição e mesmo assim o vexame seria consumado. E ponto final.
Palmeiras 2×0 Guarani – Copa João Havelange 2000
O confuso torneio que misturava times de diversas divisões no mata-mata chegou à última rodada da 1ª fase do Módulo Azul (a primeira divisão) com o Palmeiras em 13º lugar entre 25 times – e 12 se classificavam para o mata-mata.
O Guarani estava somente 1 ponto acima de nós, em 11º; logo, era um confronto direto. Com sorte, o Palmeiras poderia obter a vaga empatando, mas dependeria de o Grêmio perder para o lanterna Santa Cruz e o Botafogo não vencer o eliminado Santos, ambos jogando fora de casa. Difícil.
A missão do #Siamonoi acabou não sendo muito complicada; já no primeiro tempo Magrão e Tuta resolveram o duelo. No segundo tempo o atacante acabou expulso, mas mesmo assim o Bugre não reagiu. O Palmeiras seguiria adiante para eliminar o São Paulo nas oitavas e cair perante a zebra de bengala azul.
Juventude 0x0 Palmeiras – Libertadores 2000
Deixei em preto em vez de verde porque listar este jogo é quase uma trapaça (até porque o contrato com a Parmalat ainda vigia). É verdade que o Palmeiras só dependia de si, mas podia até perder por cinco gols que ainda assim se classificava. Assim, até com Lúcio e Victorino, né? Pensando bem…
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Em resumo, vivemos esta situação onze vezes desde que Evair nos deixou pela segunda vez. Em seis delas fizemos nossa parte e em outras duas nossos adversários deram uma mão.
As três em que falhamos, porém, foram exatamente em rodadas finais do Brasileiro, quando além de capacidade é necessário ter cabeça, o que vem nos faltando há tempos.
Ainda acho que nos salvamos. O time é ruim e vem numa queda assustadora (embora contra o Inter tenha se segurado decentemente até o 2 a 1), mas leia notícias e blogs dos adversários. Eles também já se consideram condenados. E, quer saber? Provavelmente todos estejamos – mesmo quem sobreviver.
Mas, por ora, respire fundo. Bem ou mal, a vantagem é nossa.
Tente pensar em coisas boas: praias desertas, águas cristalinas. Afinal…
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Atualização de 8/12: findo este horrendo Brasileirão, temos mais um jogo para a galeria. E ele fica em azul – bastava ganhar, mas o resultado final de Palmeiras 1×1 Atlético-PR nos fez contar com a igual incompetência do Vitória, que só precisava bater o Santos mas levou 1×0 no fim. O alvinegro praiano, ao contrário do que fez em 2009, desta vez quebrou muito nosso galho.
Pode colocar mais um azulzinho ai na conta…..